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NÃO ESQUEÇA A VELA

  • Foto do escritor: Ana Paula Campos
    Ana Paula Campos
  • 4 de abr. de 2023
  • 2 min de leitura



No último sábado aconteceu o lançamento do livro “Cenas do Catimbó”, do intelectual e juremeiro Fábio de Oliveira. Foram semanas, meses de organização, pensando em cada detalhe, para que tudo fosse o mais especial possível. Fábio é meu marido, então, pude acompanhar noites de inquietude e dias corridos.

Este é o seu primeiro livro, então, é até natural que o nervosismo tome conta da situação. Mas era mais do que isso. Fábio se via escritor, com o fruto do seu trabalho concretizado. Foram meses de muito trabalho, mas tenho certeza de que o mais importante para ele era, na verdade, garantir um momento de agradecimento para os mestres e as mestras da Santa Jurema Sagrada.

São estes senhores e senhoras que seguram sua mão na hora da dor e do desespero, dando a certeza de que tudo vai passar. São estes guias que iluminam seu caminho e o conduzem em uma jornada ética e responsável pelas vidas pessoal e profissional. É esse povo que “vai levando os contrários e abrindo os caminhos”.

Chegamos cedo a Gamboa do Jaguaribe. Não havia lugar melhor para louvar nossos protetores do que a mata repleta de pés de Jurema e tantas outras árvores sagradas. O suor em seu rosto revelava a necessidade de que tudo estivesse no seu devido lugar.

É chegado o momento da gira. Estávamos todes em roda, realizando um lindo e festivo catimbó. Observava Fábio de longe. Seus olhos brilhavam de satisfação e alegria. Ele estava grato ao perceber mestres e mestras bebendo seu vinho, baforando seu cachimbo e dançando seus pontos cantados.

Em um dado momento, Seu Manoel Quebra Pedra, nosso padrinho de Jurema, pediu-me um pendão branco. Fiquei pálida na hora. Cuidamos de cada detalhe, mas esquecemos a vela. Ouvi de pronto: “O mais importante vocês deixaram passar”. Ele não estava brigando com a gente. Eles não são assim. Mas mestres e mestras da Jurema não precisam dizer muito para mandar seu recado. Muitas vezes até uma gargalhada basta.

Um amigo querido, Damião Paz, correu em uma conveniência próxima e resolveu o problema. Como diria madrinha Paulina: “Uma mão lava a outra e as duas lavam o corpo”. Mas ficamos pensando, no dia seguinte, sobre suas palavras.

Fábio estava grato a cada pessoa que estava ali pressente para dançar o catimbó ou simplesmente prestigiar o lançamento do seu primeiro livro. Pensou em tudo para que cada convidade se sentisse acolhide e especial.

Mas o que Seu Manoel Quebra Pedra provavelmente queria nos ensinar é que de nada adianta mesa bonita, se o ponto não está firmado. Do que adianta empenho em organizar uma festa bonita para os outros, se não cuidamos primeiro do nosso Sagrado? Que hoje e sempre lembremos do que realmente importa: a simplicidade do nosso coração e verdade das nossas orações.

E você, já acendeu sua vela hoje?

 
 
 

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