VAMOS FALAR DE TOKENISMO E COLORISMO INDÍGENA?
- Ana Paula Campos
- 18 de abr. de 2023
- 2 min de leitura

Como muitos sabem, hoje é o dia dos povos indígenas. Eu poderia aproveitar a data para falar sobre isso, mas tanto eu como Fábio de Oliveira e tantos outros indígenas estamos falando sobre isso o ano todo. É só dedicar tempo para ouvir-nos e mais que isso, respeitar nossos posicionamentos. Então hoje vou dedicar o dia para falar sobre uma questão já polêmica no movimento negro, mas que também deveria ser pensada — eu creio — com ética e responsabilidade, quando falamos dos demais movimentos. Falemos de Tokenismo e colorismo.
Inicialmente, preciso dizer que as linhas que seguintes não se tratam de verdades absolutas. Mesmo assim, antes de “opinar”, sugiro que estejamos embasades em leituras para sustentar nosso argumento.
Todo ano, sobretudo no mês de abril, observo uma grande procura por pessoas indígenas para apresentações e palestras. O mesmo acontece com pessoas negras em novembro. Infelizmente, ainda não vejo tanta procura por ciganes em maio, por exemplo, mês nacional dos povos ciganos. O grande problema é que a sociedade brancocêntrica não tolera mais que alguns poucos indivíduos entres seus espaços e, com isso, elege um representante para ser “a bola da vez”.
Por exemplo, quando perguntamos se alguma pessoa já leu literatura negra, prontamente respondem “Conceição Evaristo”. Quando perguntamos o que conhecem de literatura indígena, o mesmo ocorre e o nome de “Daniel Munduruku” rapidamente é citado. Fico sempre me perguntando onde estão as outras vozes, como Márcia Kambeba, Cristino Wapichana; e principalmente vozes regionais como Kadu Araújo, Fábio de Oliveira e Graça Graúna. Seus livros não têm a mesma divulgação nem são tão trabalhados em escolas, ainda que seja uma vez no ano.
Quando pensamos em palestras, a história se repete. Sempre contamos com basicamente o mesmo nome para a mesa: Luiz Katu. Não estou, de modo algum, questionando a competência do cacique, nem muito menos deslegitimando suas aparições. Minha crítica está diretamente voltada a quem está por trás dos eventos que, por razões óbvias, só recorda do parente para os eventos.
Quando organizamos uma palestra, live, apresentação na escola ou até visitas às comunidades, precisamos lembrar que vivemos em uma sociedade racista, machista, gordofóbica, etarista e até fetichista. Precisamos estar constantemente atentes e questionar por que sempre priorizamos indígenas de pele mais clara e cabelo liso, homens cis com perfil mais próximo o possível do atlético (padrão social), jovens e que estejam vestidos o mais próximo possível do estereótipo que imaginamos como “índio”.
Muitas pessoas desconhecem a existência de 16 comunidades indígenas no estado com lideranças diversas. Temos desde mulheres de pele escura gorda até indígenas LGBTQIAPN+, mas não as vejo ocupando espaços de fala ou tendo suas comunidades visitadas por estudantes.
Não podemos ser ingênuos e esquecer que numa sociedade racista será sempre mais palatável aceitar apenas um dos nossos em espaços majoritariamente ocupados por brancos, e que estes, quando chamados, serão sempre os que mais se aproximam da “estampa” ocidental.
Que professoras, escolas, centros midiáticos e acadêmicos parem de fingir que não sabem o que estão fazendo. Nós, pessoas racializadas, temos ciência do projeto colonial em curso. Mas também que nós, pessoas racializadas, estejamos atentas para não cairmos na armadilha de sermos “o amigo não branco do rolê”.
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