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VENCENDO O CAPACITISMO

  • Foto do escritor: Ana Paula Campos
    Ana Paula Campos
  • 22 de mar. de 2023
  • 2 min de leitura


Estava circulando pelos grupos de Whatzapp um card de uma professora preta oferecendo aulas remotas de inglês por um preço acessível. Como minha filha Giovana já está no 9º ano, resolvi que seria interessante para ela participar de uma turma para melhorar sua conversação e, quem sabe, aumentar seu interesse pelo idioma. Gigi adora espanhol, mas não é muito fã do inglês.

Com a experiência da pandemia, já sabemos que aulas remotas não são fáceis para ela, que é uma menina surda, usando aparelhos auditivos. Sendo assim, matriculei-me junto para que ela pudesse fazer a leitura labial das palavras e compreender as pronúncias mais facilmente.

Frases trabalhadas durante a aula on-line foram um dos exercícios realizados. A professora enviou áudios que reproduziam as frases em inglês, e nós deveríamos enviar um áudio para ela com a gravação da nossa leitura das frases para que ela avaliasse o avanço da nossa pronúncia. Foi um estresse. Giovana se aborrecia comigo, porque eu pedia que repetisse várias vezes e a corrigia quando não estava de acordo. Repetimos o áudio da professora, sem sucesso, o que fez com que ela ameaçasse deixar as aulas, alegando que não é boa em inglês.

Eu estava muito angustiada com a situação, então, enviei uma mensagem no privado da professora, e ela prontamente se colocou em um lugar de empatia com minha filha. Giovana é a única menina surda do grupo, mas, mesmo assim, a professora parou seus outros milhares de afazeres durante o dia e gravou um vídeo, com legenda, no qual ela ficava bem próxima da câmera e pronunciava as frases com calma, palavra por palavra, para facilitar a leitura labial de Giovana e ainda acrescentou: “pergunte a ela se assim está bom”.

Percebem? Eu quem fem o pedido, mas ela pediu que perguntasse a Giovana se estava bom, porque, na verdade, é ela quem tem capacidade de dizer se o recurso pode ou não a ajudar. Giovana começou a chorar quando viu o vídeo. Ficou feliz quando eu disse: “É só pra você, pra te ajudar.” Com a devolutiva positiva, a professora gravou o áudio das outras frases e nos enviou. Giovana conseguiu, finalmente, gravar as frases e ficou super satisfeita com os parabéns da professora.

Na aula seguinte, sem dizer nada à turma, a professora se aproximou da câmera e ficou com a boca bem próxima, repetindo as palavras, uma por uma, para facilitar a compreensão de Giovana. Giovana saiu dizendo que era ótima em inglês. O que muitos não percebem é que quando utilizamos um recurso para facilitar a aprendizagem de uma criança com deficiência, acabamos por ajudar a todes na sala, porque o recurso facilita a aprendizagem de todo mundo, que, muitas vezes sem deficiência, também tem dificuldade.

Teacher Paula, muito obrigada pela empatia! Como você mesma disse, deveria ser o comum, mas infelizmente não o é. Desejo que atitudes como a sua se multipliquem pelo mundo, e que nossas crianças com deficiência se sintam cada vez mais acolhidas, respeitadas e atendidas em seus direitos, como você lindamente fez. Giovana agradece em dobro.

 
 
 

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